terça-feira, 7 de julho de 2009

D E S A S S O S S E G O

.....Tempo atrás redargüindo aos argumentos de um conhecido, apossei-me dos
ensinamentos(mais uma vez)de um literato, para poder colocar através da
prosa meus pensamentos.

.....O assunto datado. Deve neste momento estar fenecendo em algum canto.
.....A abordagem estava ligada a questões concernentes ao Universo Feminino.
.....Gente, Vivente, Decente, são palavras que aprecio.
.....Tira a pecha perigosa e incômoda de dividir seres em castas.

.....Já emiti comentários sobre o "Dia das Mulheres"
(ou Internacional como queiram), nada tenho que acrescentar ao que registrei.
É um gênero diferente do masculino, com atribuições próprias
e por isso mesmo instigante e maravilhosa.

.....Tenho uma admiração por datas comemorativas, nos prestam o serviço de
refletirmos sobres temas que o cotidiano nos obriga(?)abandonar.
Uns a inculpam pela comercialização dos sentimentos. Mas estes sem a publicidade do
movimento mercantilista estariam fadados ao esquecimento há muito tempo.
.....O que enfada é essa balda de certas comemorações virarem discursos
retrógrados, aplicando elocuções soberbas com o objetivo sagrado
de nos guiar em direção ao precipício.

.....O "SER" deve caminhar como um todo em direção ao infinito.

Pergunto: - A quem interessa essa divisão capenga que retalha a sociedade em minorias obsoletas?
Respondo: - À Ambição! À Hipocrisia!

.....Não existe em nenhum movimento destes uma disposição clara pela
integração. O que percebemos é um discurso desagregador em relação à
espécie, desencadeando um processo degenerador a dividindo em guetos.
.....São grupelhos querendo ascender ao poder e se locupletar com a miséria alheia.
.....Em uma sociedade onde o supremos mandatários; utilizando de métodos
maquiavélicos, praticam cafetinagem diária contra os indivíduos que a compõe.
Isso preocupa.

.....Sou branco, estou hetero e pertenço ao gênero masculino, me sinto um
excluído desta sociedade. Mas não vindico um dia solene para comemorar.
O que almejo é obter uma identidade terrena(ou terráquea, se assim lhe apetece),
que esteja acima destas disputas entre os sectários do maniqueísmo.

.....Minha expectativa em relação à Mulher Ideal está expressa em uma ilustração.
Alguém que se desmascare e espedace os grilhões que a acorrentam.
E assim possa cumprir com os seus desígnios.

.....Após este intróito rancoroso.
.....Concluo que.:

.....Somos a eterna busca e não a solução.
Vicente Guedes (1),em sua introspecção melancólica, não se ludibria pela aparência da coisas.

" O peso de sentir! O peso de ter que sentir"

"A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa.
Dizem que não há nada mais difícil do que definir em palavras uma espiral:
é preciso, dizem, fazer no ar, como a mão sem literatura, o gesto,
ascendentemente enrolado em ordem, com aquela figura abstrata das molas ou
de certas escadas se manifesta aos olhos"

" Mas desde que nos lembremos que dizer é renovar, definiremos sem
dificuldade uma espiral: é um circulo que sobe sem nunca conseguir acabar-se"

" A maioria da gente, sei bem, não ousaria definir assim, porque supõe que
definir é dizer o que os outros querem que se diga, que não o que é preciso
dizer para definir.
Direi melhor:
Uma espiral é um circulo virtual que se desdobra a subir sem nunca se realizar."

"Uma espiral é uma cobra sem cobra enroscada verticalmente em coisa nenhuma"

" Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real"

B I N G O ! ! !

"Como todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente
irreal na sua realidade direta: os campos, as cidades, as idéias são absolutamente fictícias,
filhas da nossa complexa sensação de nós mesmos."

P O N T O ! !

" São intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornamos literária."

.....É controverso esse tema. O registro plástico, sonoro, cênico,
nos influencia diretamente e se assim o faz, podemos desta mesma maneira
transferir essas sensações para outrem.

" As crianças são muito literárias porque dizem como sentem e não como devem
sentir quem sente segundo outra pessoa"

.....Mas a vida é muito mais do que o bucólico marasmo da monotonia.
E até na descrença erudita de Bernardo Soares (1), encontramos esperança.

"Dizer!
Saber dizer!
Saber existir pela voz escrita e a imagem intelectual.
Tudo isso é quanto a vida vale:
O mais é o homens e mulheres, amores supostos e vaidades factícias,
subterfúgios da digestão e do esquecimento, gentes remexendo-se, como bichos
quando levanta uma pedra, sob o grande pedregulho abstrato do céu azul sem sentido"

" Às vezes é tão grande, tão rápida, tão abundante a fluência concentrada de
imagens e de frases certas que se desenrola no espírito desatento, que raivo,
estorço-me, ébrio de ter que as perder - porque as perco.
Cada uma teve o seu momento e não pode ser lembrada fora dele."

......E ainda.

" E fica-me como a um amoroso a saudade de um rosto amável entrevisto
e não fixado, a debruçar-me sobre o abismo de um passado rápido de imagens
e idéias, figuras mortas da bruma de que elas mesmas se formaram. "

......finalmente.

"Fluido, ausente, inessencial, perco-me de mim como se me afogasse em nada;
sou transacto e esta palavra, que fala e pára, diz, tem, tudo."


.....Desassossegados Seres é o Que Somos.

CãRiùá - TaTaRaNa

(1)Heterônimos de Fernando Pessoa,
redigidos em prosa nas publicações do Livro do Desassossego.

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